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Foto: Alexandre Oliveira (de Tarcísio Gondim, pesquisador)
26/08/2025
Por Edna Santos (MTB/CE 1700)
A Agave tequilana , planta amplamente utilizada no México para a produção de tequila, começou a encontrar novos usos no Brasil. Em um estudo liderado pela Embrapa Algodão em parceria com a empresa Santa Anna Bioenergia, a espécie está sendo estudada como alternativa para a produção de etanol, sequestro de carbono e alimentação animal. O objetivo é diversificar o uso da Agave como fonte de energia renovável adaptada ao semiárido brasileiro, impulsionar a bioeconomia e contribuir para a transição energética do país.
O estudo também abrange outras variedades do gênero Agave do Banco de Germoplasma da Embrapa que são promissoras para a produção de biomassa, incluindo a Agave sisalana (sisal), atualmente usada principalmente para fazer cordas, tapetes e carpetes, e na construção civil.
Além de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), o estudo visa desenvolver um sistema de cultivo de Agave tequilana e outras espécies para fins energéticos. O objetivo também é promover um aproveitamento mais amplo dessas plantas, considerando que atualmente apenas 4% da biomassa foliar de Agave sisalana é utilizada no processo de industrialização.
O Brasil é o maior produtor mundial de Agave sisalana , com 95.000 toneladas de fibra em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ). Cerca de 95% da produção nacional concentra-se na Bahia, onde a cultura é uma das principais fontes de renda do chamado Território do Sisal. A Paraíba ocupa o segundo lugar na produção nacional de fibra de sisal, com uma área de aproximadamente 5.000 hectares, segundo o IBGE.
O gênero Agave vem atraindo a atenção de empresas de energia como uma potencial matéria-prima para produção de bioenergia como o etanol e para compensações líquidas de gases de efeito estufa devido à sua adaptabilidade característica a climas semiáridos.
Além dos aspectos econômicos e ambientais, o pesquisador da Embrapa Algodão, Tarcísio Gondim ( foto à direita ), destaca que o estudo oferece uma importante contribuição social. "Essa inovação tecnológica pode contribuir para atenuar as desigualdades regionais e combater a precarização do trabalho em áreas de cultivo de sisal no Nordeste do Brasil. Para isso, utilizaremos plantas xerófilas — ou seja, adaptadas a ambientes secos — para múltiplos propósitos: produção de etanol, alimentação de ruminantes e captura de CO2 em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)", explica.
Embora o ciclo do agave seja mais longo que o da cana-de-açúcar, sua principal vantagem é a adaptação às condições semiáridas, onde outras culturas não conseguem atingir produtividades competitivas.
"O ciclo da agave pode levar cerca de cinco anos ou mais para chegar à fase de colheita. No entanto, o aumento da área de plantio ao longo desse período permitirá a estabilização da produção de biomassa para fins energéticos, garantindo competitividade na sua exploração comercial no Semiárido brasileiro. Para que isso se torne realidade, são necessários estudos sobre padronização de cultivares, manejo e tratos culturais, fertilidade do solo, mecanização do cultivo e beneficiamento de toda a biomassa", explica Gondim.
Em março, pesquisadores da Embrapa Algodão realizaram uma missão ao México, onde visitaram o Instituto Nacional de Pesquisas Florestais, Agrícolas e Pecuárias ( Inipaf ), órgão análogo à Embrapa naquele país, além de diversas instituições ligadas à cadeia produtiva da tequila, para identificar oportunidades de colaboração em pesquisas sobre produção de biomassa para biocombustíveis, sequestro de carbono e reaproveitamento de resíduos vegetais na dieta animal.
As primeiras 500 mudas de Agave tequilana Weber var. Azul , trazidas pela Santa Anna Bioenergia do México, já passaram pelo processo de quarentena, e a equipe de pesquisa brasileira acaba de iniciar estudos para avaliar a espécie nos limites do município de Jacobina, Bahia, onde está em fase de instalação a primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT) de Agave tequilana . Duas URTs adicionais serão instaladas nos municípios de Alagoinha e Monteiro, na Paraíba, totalizando 1.800 mudas de Agave tequilana na primeira fase do projeto.
O experimento faz parte do projeto Agave para produção de etanol, sequestro de carbono e alimentação animal no Semiárido brasileiro e tem duração prevista de cinco anos. Durante esse período, serão realizados testes para recomendar arranjos de plantio, fertilização e tratamentos culturais para garantir maior produtividade e viabilidade econômica. Além disso, os cientistas desenvolverão uma metodologia para quantificar o carbono e as propriedades químicas dos componentes da biomassa de agave no processo pós-colheita para produzir etanol e alimentação animal a partir de resíduos vegetais.
Segundo o pesquisador Everaldo Medeiros , responsável pelas análises no Laboratório de Química da Embrapa Algodão, a caracterização química e a análise do potencial de uso da biomassa estão sendo conduzidas com metodologias inovadoras, o que permite a elaboração de um painel de dados abrangente. Este painel não apenas subsidiará estratégias eficazes para o aproveitamento da biomassa de agave como fonte de energia, mas também permitirá a quantificação da captura de carbono.
Para Manoel Francisco de Sousa , zootecnista da Embrapa Algodão, "os resíduos da produção de etanol de A. tequilana podem se tornar uma importante fonte de forragem para dietas de ruminantes, principalmente em épocas de escassez de forragem no Semiárido brasileiro".
Foto: Alexandre Oliveira
Fonte: EMBRAPA
Fonte: EMBRAPA