Digite o que procura
01/09/2021
A preocupação com o volume de lixo produzido no Brasil não é um tema recente, há muito se discute como reaproveitar e dar a destinação correta para os resíduos gerados em casas, empresas, indústrias e no setor de abastecimento. Com o tempo, novas técnicas e soluções foram surgindo e hoje existem diversas iniciativas que ajudam a diminuir o impacto do lixo em aterros sanitários. As centrais de abastecimento integram o grupo que vem buscando constantemente recursos para a destinação correta de resíduos, fazendo com que aquela velha imagem de “fim de feira” seja coisa do passado.
O Brasil produz quase 37 milhões de toneladas de lixo orgânico. Esse resíduo tem potencial para virar adubo, gás combustível e até mesmo energia elétrica, favorecendo a rentabilidade econômica e sustentável. No entanto, apenas 1% do que é descartado é reaproveitado, segundo pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Não tratado, o lixo orgânico vai para os aterros sanitários, e com o período de decomposição, esse material gera gás metano, substância nociva à atmosfera, além de aumentar um antigo problema: onde encontrar espaço adequado para tanto lixo?
Uma das iniciativas mais simples e que oferece bons resultados na hora de reciclar os resíduos orgânicos é a compostagem. O processo acontece a partir do contato com o oxigênio, e faz com que fungos e bactérias transformem lixo em adubo. Outra forma de tratar o lixo orgânico é transformá-lo em energia, sendo a produção de biogás a forma mais conhecida de reaproveitamento. Enquanto na compostagem se trata os resíduos biologicamente pela ação de bactérias aeróbias, ou seja, com a presença de oxigênio, no biodigestor os resíduos são tratados de forma anaeróbia, sem oxigênio. Logo, a decomposição da matéria orgânica sem a presença de oxigênio gera o biogás, que pode ser usado de diversas formas, por exemplo, em redes de gás natural como combustível veicular.
Rio de Janeiro - Está em fase de elaboração um projeto que visa transformar em adubo e biogás os resíduos orgânicos da Ceasa do Rio de Janeiro. A iniciativa, apoiada pelo Instituto Estatístico Para o Desenvolvimento Tecnológico do Abastecimento de Hortifrutigranjeiros (Datahorti), Confederação Brasileira das Associações e Sindicatos de Comerciantes em Entrepostos de Abastecimento (Brastece) e Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), tem como objetivo recolher e tratar de forma adequada as mais de 100 toneladas diárias de lixo orgânico que a Ceasa envia para aterros sanitários. O projeto conta também com o apoio de empresas parceiras, como a OWG Engenharia, 3 A Biogás, CHP Brasil e Neo Organic. Luciano Basto Oliveira é consultor do Datahorti, pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE) e gestor do programa. Ele explica que com um único equipamento é possível reaproveitar os resíduos de duas formas diferentes. “Nosso projeto prevê que um biodigestor faça a transformação dos resíduos em adubo e em biogás. Esse biogás pode, inclusive, abastecer um motor que, quando ligado à rede elétrica, pode oferecer eletricidade a partir dessa substância”. Em tempos de crise hídrica, o método demonstra a necessidade de investimento e flexibilidade em projetos que busquem outras soluções a fim de evitar o aumento demasiado nos custos de energia. O pesquisador lembra ainda que o uso de adubo a partir desse processo ajuda a dinamizar a economia, uma vez que é possível reduzir o volume de importação de fertilizantes.
Apoiadora da iniciativa, a UFRRJ será a responsável por executar e estudar a aplicação dos fertilizantes e do biogás gerado a partir do biodigestor. O projeto envolve 41 docentes da universidade e oito programas de pós-graduação do campus de Seropédica, Rio de Janeiro, mesmo município onde fica o aterro sanitário que recebe os resíduos da Ceasa. “São muitas as especializações envolvidas nesse projeto, como alunos de graduação e da pós-graduação das áreas de engenharia, agronomia, química, física, computação, psicologia e muito mais. A UFRRJ tem cursos que abrangem toda a cadeia produtiva, por isso esse projeto é de extrema importância econômica, ambiental e social”, explica a Professora Doutora Maria Ivone Martins Jacintho Barbosa, coordenadora institucional do projeto e vice-coordenadora do Instituto de Tecnologia da UFRRJ. A universidade já estuda também a possibilidade de um novo curso de especialização voltado para o biogás, que deve trabalhar conceitos de engenharia, sustentabilidade, energia limpa e indústria 4.0. “Estamos avaliando a possibilidade de a partir da experiência com essa usina criar um curso de extensão específico para isso e, quem sabe no futuro, expandir para graduação e pós-graduação. É importante destacarmos e aproveitarmos os potenciais das universidades públicas em desenvolver programas de alto impacto como este que está em curso e é de grande importância regional.”, diz a professora. No momento, o projeto aguarda assinatura de convênios e apoio de financiamento para o início da construção do equipamento biodigestor.
Santa Catarina - A Ceasa de Santa Catarina concluiu no mês de agosto um chamamento público para propor soluções inovadoras na gestão dos resíduos orgânicos para a unidade São José. A partir de agora, cinco empresas irão colocar em prática projetos para a destinação correta de resíduos no local. Atualmente, a central leva para o aterro sanitário cerca de 10 toneladas de resíduos por dia. A iniciativa, chamada de Living Lab Ceasa, ocorre com apoio do Governo do Estado e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e vai avaliar diferentes técnicas de reaproveitamento dos resíduos, como: a bioconversão por meio do desenvolvimento da larva Hermetia illucens; o processamento do lixo em maquinário; a conscientização da separação inicial do lixo, coleta mecanizada e compostagem termofílica; o reaproveitamento energético na geração de biogás e a prática da compostagem com foco na economia circular, onde o produto final retorna ao Ceasa. "Nossa experiência tem demonstrado a importância de se trabalhar a inovação no setor público com metodologias que fomentem a inovação aberta. Esperamos que esta iniciativa seja a primeira de muitas para testes e desenvolvimento colaborativo de soluções inovadoras, não somente na Ceasa”, enfatiza a professora Clarissa Stefani Teixeira, que coordena o projeto pela UFSC.
O presidente da Brastece, Waldir de Lemos, destaca que iniciativas como essas complementam outras em ação, ajudando assim a evitar o desperdício e a contribuir com o meio ambiente. “Os permissionários já integram outros projetos sociais, como banco de alimentos, doações de produtos aptos para consumo, entre outros. Os alimentos que não se encaixavam nessas condições, até então, eram vistos com um problema, era desperdício, se tornavam lixo e aumentavam os custos com limpeza, além de causarem desconforto com o mau cheiro. Ter ações ambientais como essas contribuem para toda uma cadeia produtiva, fortalece a economia e ainda ajuda o meio ambiente”.
Fonte: Assessoria de Imprensa Brastece - Plugin