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19/04/2022
Foi em uma viagem para Canavieiras, na Bahia, que Jairo Kenupp Bastos, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), ouviu falar pela primeira vez sobre o inseto. “Os apicultores da região me contaram sobre um bichinho que faz furos em uma planta chamada Dalbergia ecastaphyllum, um tipo de leguminosa, de onde sai uma resina que serve de matéria-prima para a fabricação da própolis vermelha”, conta.
Essa resina é capturada pelas abelhas Apis mellifera, combinada com cera, pólen e enzimas, dando origem a esse tipo de própolis – o segundo mais produzido e comercializado no Brasil. Ela tem essa cor exatamente por causa da substância obtida na planta e possui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antitumorais.
Para entender melhor como esse processo acontece, Bastos levou algumas larvas do besouro para o Museu de Zoologia da USP, na capital paulista. Mas para identificar corretamente o inseto era preciso capturar espécimes adultos. A doutoranda Letizia Migliore ficou encarregada dessa missão e, acompanhada do entomologista Gianfranco Curletti, do Museo Civico di Storia Naturale em Carmagnola, na Itália, do pós-doutorando Gari Ccana-Ccapatinta, da FCFRP-USP, e do biólogo e apicultor Jean Carvalho, morador de Canavieiras, fez várias saídas de campo na cidade baiana para procurar os insetos nos galhos da planta.
“Como eles são muito pequenos, não foi uma tarefa fácil, mas conseguimos coletar alguns machos e fêmeas que foram conservados em álcool 70° GL e levados ao museu, onde foram analisados no microscópio. Assim foi possível a descoberta dessa nova espécie da família Buprestidae, que recebeu o nome de Agrilus propolis”, conta Migliore. O trabalho contou com a participação de Curletti, Gabriel Biffi e Sônia Casari, chefe do laboratório de Coleoptera do Museu de Zoologia e orientadora de Migliore.
“Em paralelo a isso, análises fitoquímicas foram realizadas no laboratório de farmacognosia [da FCFRP-USP] para confirmar que a composição química da resina e a da própolis é a mesma, comprovando, assim, a sua origem botânica e a participação dessa nova espécie de besouro na produção da substância medicinal”, conta Ccana-Ccapatinta, integrante da equipe de Bastos.
Transformação
A união das pesquisas dos dois grupos também possibilitou entender como o processo acontece. As larvas do inseto se desenvolvem no interior do caule da Dalbergia ecastaphyllum, popularmente conhecida como rabo-de-bugio ou marmelo-do-mangue, e, quando o ciclo de vida dos insetos se completa, os adultos saem da planta através de pequenos orifícios por onde vaza a resina ou o exsudato, nome científico para líquidos orgânicos que extravasam através das membranas celulares de plantas ou animais por causa de lesões.
As descobertas obtidas pela pesquisa foram publicadas no periódico The Science of Nature. O trabalho contou com financiamento da FAPESP por meio de um Projeto Temático coordenado por Bastos e de um Bolsa de Doutorado concedida a Jennyfer Mejía, coautora do artigo.
“Esse artigo é de importância primordial, uma vez que o agente indutor da produção de própolis vermelha pela planta hospedeira foi finalmente identificado. Até então não se tinha qualquer informação sobre qual espécie de inseto poderia estar provocando esse fenômeno”, diz Casari.
A pesquisadora afirma que, com esses dados, será possível expandir os estudos sobre a produção da própolis, que apresenta efeitos importantes na economia devido ao seu alto valor comercial. Em 2019, ano em que o trabalho de campo foi feito, um quilo era vendido por US$ 150.
O artigo A new species of jewel beetle (Coleoptera, Buprestidae, Agrilus) triggers the production of the Brazilian red propolis pode ser lido em: link.springer.com/article/10.1007/s00114-022-01785-x.
Fonte: FAPESP
Fonte: FAPESP