A substituição de petróleo por biocombustíveis levará a demanda por etanol em 2050 a 9,4 vezes a atual, disse Plinio Nastari, 67 anos, presidente da Datagro, empresa de consultoria e gestão de recursos no agronegócio com presença em 56 países.
Mesmo com o crescimento da produção em outros países, o Brasil poderá multiplicar por 4 a produção de etanol até 2050.
Nastari afirmou que veículos 100% elétricos têm limitação para recarga em áreas rurais e estradas. Vão conviver com híbridos. O etanol crescerá mais com uso em aviões e navios.
A Datagro promoverá em conjunto com associações do agronegócio em 27 e 28 de junho o GAFFFF (Global Agribusiness Festival) no Allianz Parque, em São Paulo.
As letras F adicionais fazem referência às palavras food, fair e fun (comida, feira e diversão em português). Além de palestras e debates sobre o agronegócio, o evento terá feira de tecnologia, apresentações de música e oficinas de gastronomia com chefes renomados.
evolução – “O Brasil passou de importador líquido de alimentos na década de 1970 para ser um dos maiores protagonistas da produção de alimentos e energia de biomassa. Em grãos, de 46 milhões de toneladas para 320 milhões. A área apenas duplicou: de 36 milhões de hectares para 76 milhões. De cana, de 70 milhões de toneladas para 720 milhões. Em proteína animal, multiplicou-se por 16. O território é de 851 milhões de hectares, dos quais 340 milhões agricultáveis. Ocupamos com lavouras 76 milhões. Com pastagens, 160 milhões. Espera-se que o Brasil responda até 2050 por 40% do crescimento da demanda de alimentos no mundo”;
código florestal – “O Brasil é o único país que obriga propriedades privadas a reter como reserva legal de 20% a 80% da área da propriedade em reserva. O Brasil mantém em vegetação nativa mais de 66% do seu território, metade por proprietários privados. Nós precisamos fazer com que [o código] passe a valer de verdade. É preciso resolver a titulação de terras. O desmatamento é o grande fator de emissão de carbono no Brasil. Isso ocorre não pela agricultura tradicional, mas por grilagem. Com CPF, endereço fixo, pode-se cobrar de quem está fazendo algo errado. Isso [a titulação] precisa ser acelerado”;
produtividade – “O ministro Carlos Fávaro [Agricultura] está criando um plano para incorporação de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas como lavoura. Ele pretende acelerar um processo que já está ocorrendo. Um agricultor produz soja e, na sequência, milho, com custo mais baixo. Esse milho é industrializado, [produz] proteína para confinamento de bovinos. Intensifica a pecuária e libera a área de pastagens para mais produção de soja de milho. O Brasil passou a ser o maior exportador de carne vermelha do mundo”;
etanol no interior – “No Mato Grosso, o etanol substitui de 62% a 70% da gasolina, que não precisa ser transportada das refinarias na costa brasileira”;
novas leis – “Há uma integração grande entre o Poder Executivo e o Congresso. O Paten [Programa de Transição de Energia Renovável, aprovado pela Câmara] vai permitir usar títulos como garantia para investimentos em transição energética. O estoque desses recursos é de mais de R$ 800 bilhões”;
políticas públicas – “O Brasil é um país agraciado por Deus com sol, água, terra, e, mais do que tudo, gente. São poucos os países que têm essas 4 coisas. É isso que torna o Brasil um candidato a promover crescimento desenvolvimento econômico com inclusão social, que é uma meta do atual governo. Existe mais direcionamento, existe um norte mais claro do que o governo anterior. Está havendo mais clareza e mais integração entre o Executivo e Congresso no atual governo. Acho que é uma retomada das iniciativas que já vieram do governo Temer, que, apesar de breve, foi muito virtuoso. Resolveu um monte de coisas e avançou em áreas importantíssimas”;
futuro dos biocombustíveis – “Grandes países como a Índia, que tem 80% da população na zona rural, estão optando pelos biocombustíveis. Foi inaugurada uma planta na Geórgia [EUA] de conversão de etanol em bioquerosene de aviação. Há uma demanda potencial para isso de 4 vezes a produção atual de etanol no mundo. O transporte marítimo é um mercado de 3 vezes a produção de etanol”.