Na Tecnoshow Comigo, produtores destacam pessimismo com a colheita e com as finanças
A marca registrada do El Niño, chuvas irregulares e aumento da temperatura, se confirmou novamente e vai trazer prejuízos para os produtores goianos na safra 2023/24. Os efeitos do fenômeno climático devem provocar uma queda média de 10% na produção de grãos do Estado, que no ciclo passado foi de 33 milhões de toneladas. A produtividade esperada é de, aproximadamente, 50 sacas por hectare.
A estimativa foi divulgada pelo secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás, Pedro Leonardo Rezende, durante o primeiro dia da 21ª edição da Tecnoshow Comigo. A feira, promovida pela Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), acontece até sexta-feira (12/4), em Rio Verde (GO).
Apesar de uma redução nas projeções iniciais, que previam recuo de 15% a 23% na produção, a realidade de alguns produtores será bem diferente do que apontam os números oficiais. Segundo Luciano Jayme Guimarães, que cultiva 800 hectares de soja e milho em Rio Verde, essa foi a pior estiagem e a temperatura mais quente que ele presenciou em 43 anos de atividade.
“O que mais me surpreendeu foi o calor do solo. Eu nunca vivenciei uma temperatura alta como essa. Têm produtores que já perderam 70% da lavoura. Eu tive uma quebra de 25% na produtividade em relação à safra passada. Vou colher 17 sacas a menos por hectare”.
O custo maior de produção e a baixa no preço da commodity desequilibraram ainda mais a conta e trouxeram saldo negativo para muitos. Aqueles que conseguiram “empatar” sentem alívio.
José Roberto Brucceli cultiva 5 mil hectares com soja, milho e sorgo, em Rio Verde e mais seis cidades da região, e explica que produtores como ele – com produtividade média de 60 sacas/ha - só conseguirão pagar o que gastaram para produzir, não restando dinheiro para investimentos e arrendamentos firmados.
“Não teremos capital de giro e garantias para seguir em frente. Já estamos condenados a não ganhar dinheiro no ano que vem porque com o valor de produção atual, só conseguiremos pagar os custos. Acredito que 10% dos produtores aqui da região sairão da atividade”, projeta.
Produtor em Goiás e Mato Grosso, Vanderlei Secco analisa que a estimativa de 10% de baixa divulgada pelas autoridades deverá aumentar à medida que a colheita avançar e forem contabilizadas as lavouras plantadas tardiamente que também sofreram com a ocorrência de doenças e da mosca branca.
Em relação a novos investimentos, os três produtores têm a mesma opinião. Gastos apenas com maquinário que precisa ser renovado e produtos indispensáveis para o cultivo, como insumos e adubação.
“O produtor está pisando no freio e vai diminuir a tecnologia dele. Reduzindo o investimento, automaticamente a produtividade vai baixar. Mesmo com o clima ajudando, a próxima safra não deverá ser boa”, disse Secco.
Entre as ações emergenciais para amenizar as perdas, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que o governo federal agiu sem esperar o fim da colheita. O alongamento dos endividamentos dos agricultores do Centro-Oeste já foi definido e, ainda em abril, recursos de capital de giro serão colocados à disposição dos produtores e cooperativas, com três anos para pagamento.
Fávaro declarou que está sendo realizado um “estudo profundo” sobre a ampliação da subvenção do seguro rural, em torno de R$ 1 bilhão atualmente, dentro do Plano Safra 2024/2025. A possibilidade é utilizar parte dos recursos destinados ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) que, sozinho, recebeu R$ 10 bilhões no ano passado.
“Em um momento de dificuldade, de safra curta e preços achatados, o governo tomou as medidas necessárias. Agora, precisamos inovar no seguro rural e ampliar o recurso, que há cinco ou seis anos não recebe aumento”.
José Mário Schreiner, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), avalia que a combinação entre clima desfavorável e preço baixo é uma das piores possíveis e o produtor dependerá de políticas públicas para se recuperar e não correr ainda mais riscos de endividamento com o crédito privado.
“Precisamos turbinar o crédito público e é isso que estamos conversando com o governo federal. O produtor está preparado para enfrentar esse desafio, que é momentâneo. Isso é uma roda gigante que sobe e desce, mas acho que os produtores vão conseguir suportar bem”.
Para amenizar os impactos negativos e os riscos econômicos, alguns produtores já pensam em reduzir a dependência do binômio soja-milho com culturas como algodão, trigo e arroz. Secco apostou no gergelim em Mato Grosso. “Soja e milho tem que fazer muita conta e você não pode errar”.