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14/09/2020
Estudo publicado pela Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) aponta que estratégias de nutrição para raças de ovinos localmente adaptadas ao Semiárido podem reduzir a emissão de gases de efeito estufa por esses animais. Em ensaio experimental com 64 fêmeas da raça Santa Inês em período de crescimento, houve redução em até 57% da emissão de metano (um dos principais gases causadores de efeito estufa), quando se diminuiu a proporção de alimento volumoso na dieta. Com dieta semelhante, a redução da emissão em fêmeas em crescimento da raça Somalis Brasileira chegou a 30%.
No experimento, a dieta fornecida aos animais teve composição com alimentos volumosos (feno de Tifton) e concentrados (milho, farelo e óleo de soja), com variações em diferentes proporções. A melhor resposta em termos de mitigação de gases aconteceu com proporção de 20% de volumoso para 80% de concentrado. Esse resultado indica que a utilização de dietas com maior produção de ingredientes concentrados em nutrientes solúveis (grãos, tortas, farelos, óleos vegetais) pode representar importante alternativa mitigadora de gases de efeito estufa, como metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), para ovinos de grupos genéticos localmente adaptados ao Semiárido brasileiro – desde que os animais passem por período de adaptação, necessário às chamadas Dietas de Alto Concentrado
A observação demonstrou a possibilidade de que variáveis como a relação de volumoso e concentrado na dieta, a qualidade da forragem e a espécie forrageira consumida podem influenciar a produção de metano entérico (produzido pelo processo digestivo e emitido por flatulência ou arroto) por parte dos animais. Um outro aspecto é a otimização do uso dos ingredientes nessas dietas. Pela pesquisa desenvolvida, foi possível reduzir em 15% os teores de nutrientes proteicos e energéticos nas formulações dietéticas em relação aos valores normalmente utilizados nas formulações no Brasil para ovinos em terminação. Isso representa redução de custos quando a estratégia é utilizar dietas de alto concentrado. Esses fatores têm estimulado os estudos que avaliam a composição das dietas e o manejo alimentar com plantas forrageiras que minimizem a produção desses gases.
Essas estratégias de mitigação dos gases por meio da nutrição ganham relevância para a produção animal: como a geração de metano integra a digestão das espécies ruminantes, é possível manipular a sua produção por meio da qualidade dos ingredientes dietéticos fornecidos a esses animais. O aumento na proporção de alimento concentrado verificado no estudo, por exemplo, estimula bactérias do processo ruminal que favorecem menor emissão desse gás. Outra vantagem é que com a otimização de nutrientes, há redução do período de confinamento e terminação (engorda para abate) desses animais.
“O metano é um produto oriundo da fermentação ruminal. Quando é ofertada uma dieta com maior proporção de forragem, ocorre maior produção desse gás. Ao reduzirmos a proporção de volumoso e aumentarmos a proporção de alimentos concentrados de rápida fermentação, a emissão de metano por animal é menor, consequentemente, por ciclo produtivo. Outra vantagem é que o animal pode ser terminado mais rapidamente e com isso aumenta o giro dentro da propriedade”, ressalta o zootecnista Clésio Costa, que conduziu o experimento na Embrapa, como atividade de seu curso de doutorado em Zootecnia na Universidade Federal do Ceará (UFC), sendo coorientado pelo pesquisador Marcos Cláudio Rogério, da Embrapa Caprinos e Ovinos.
De acordo com Marcos Cláudio, observar essa relação em animais em fase de crescimento foi interessante, por ser categoria com exigência elevada de nutrientes. Além disso, foi possível obter informações referentes à eficiência do processo digestivo: a emissão de metano representa perda de energia bruta do alimento ingerido (que pode variar entre 6% e 12%) e pior desempenho do animal – condição verificável em termos de indicadores produtivos, como ganho de peso, produção de carne, entre outros.
“À medida que melhoramos a eficiência de uso dos nutrientes, especialmente os nutrientes energéticos, induzimos a uma redução das emissões de gases, porque a gente melhora os processos metabólicos, especialmente aqueles que levam à produção de metano. Ao mesmo tempo, quando fazemos a redução da emissão de gases de efeito estufa estamos contribuindo também com a sustentabilidade ambiental dos sistemas de produção”, destaca Marcos Cláudio.
Câmaras respirométricasUma tecnologia que facilitou a obtenção dos dados sobre a mitigação é a das câmaras respirométricas do Laboratório de Respirometria e Eficiência Alimentar da Embrapa Caprinos e Ovinos. Com os ovinos dentro dessas estruturas, é possível simular dietas e condições ambientais, como a temperatura e umidade relativa do ar, e mensurar, com mais acurácia, as trocas e emissões de gases da fisiologia de cada animal, permitindo, com isso, avaliar também a eficiência no uso de nutrientes. “Essa estrutura é a única do tipo em regiões tropicais semiáridas do planeta. Com ela, podemos gerar informações para nosso Semiárido e trazer informações para diferentes regiões semiáridas do planeta”, frisa Marcos Cláudio. De acordo com ele, as pesquisas terão continuidade para obter informações referentes à mitigação de gases em outras categorias de animais. |
Além das indicações sobre composição da dieta fornecida em condições de terminação sob confinamento, a publicação também aponta outros fatores que podem contribuir para a mitigação de gases na realidade do Semiárido brasileiro: as técnicas de manejo para enriquecimento da Caatinga (introdução de espécies forrageiras para aumento da produção e qualidade da forragem) e o uso de recursos alimentares locais que possuem taninos em sua composição.
Em um primeiro estudo, que avaliou modelos de produção com ovinos na Caatinga, a técnica do gás traçador revelou menor produção de gás metano no período chuvoso do ano, quando foi feito um processo de enriquecimento da área de pastejo. Isso acontece porque, com o enriquecimento, é possível ter uma forragem de melhor qualidade, facilitando a digestibilidade e um menor tempo de permanência do alimento no rúmen dos animais.
A técnica do gás traçador baseia-se na introdução de uma cápsula no rúmen - estômago do animal - com uma taxa de liberação conhecida, misturando-se aos gases da fermentação ruminal e permitindo identificar e quantificar o metano produzido pelo animal.
Quando se observou o comportamento dos animais em período seco, constatou-se que a alimentação em um pasto de menor qualidade, com maior percentual de lignina (componente da parede celular de vegetais que limita a digestibilidade) nas plantas, prejudica a digestão, favorecendo a retenção de alimento no rúmen e a taxa de fermentação, assim como uma maior produção de metano.
Um outro estudo citado na publicação mostrou bons resultados no uso da mucuna preta e de folhas de mufumbo para menor produção entérica de metano, quando comparados com espécies vegetais semelhantes. Em comum, a presença de taninos em sua composição, indicando efeito positivo para a mitigação. Uma dieta com introdução das folhas do mufumbo, por exemplo, reduziu em 50% as populações de bactérias responsáveis pela emissão de metano no sistema digestivo dos animais, quando comparadas com uma dieta que teve a mesma formulação, mas sem a presença do mufumbo.
De acordo com Marcos Cláudio Rogério, os taninos têm relação com esse potencial de redução do metano pelos animais. “Em um limite de até 4% da matéria seca, esses taninos podem ser importantes para reduzir as populações de bactérias que produzem metano”, explica ele. O pesquisador destaca, também, que a Embrapa Caprinos e Ovinos conduz, atualmente, pesquisa sobre avaliação de taninos condensados na suplementação de animais, para avaliar efeitos dessa dieta para a eficiência alimentar e a mitigação de gases, com resultados previstos para 2021
Fonte: Embrapa Caprinos e Ovinos