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30/09/2022
A integração é essencial para o crescimento da produtividade e competitividade do agronegócio brasileiro, aliando as agendas de conservação ambiental e produção. O trabalho em conjunto entre o público e o privado possibilita a formação de políticas públicas que sejam aplicáveis na prática e a construção de uma visão mais clara sobre a bioeconomia circular e seus impactos nas cadeias produtivas de maior extensão. A união entre ciência, academia e o mundo corporativo resultou no desenvolvimento de tecnologias para áreas tropicais, o que permitiu a produção de 2 ou até 3 safras por ano no país, contribuindo para a redução da pegada de carbono na atividade.
“O Brasil tem caraterísticas continentais e importantes, como a produção relevante de hidrocarbonetos de um lado, e de carboidratos, proteínas e fibras, por outro. Esses mundos estão cada vez mais integrados, incluindo a transformação de carboidratos em hidrocarbonetos verdes, traduzindo o uso de inovação e tecnologia no agro, além de agregar valor ao negócio. A soma das cadeias produtivas é a base do desenvolvimento agroindustrial que devemos ter”, disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio, durante o Webinar Crise e Desafios nos Sistemas Agroalimentares Globais, promovido pelo Diálogo Agropolítico (APD), cuja abertura foi feita por Ingo Melchers, diretor da APD.
Em sua avaliação, houve uma mudança na visão sobre a biodinâmica do solo brasileiro nos últimos anos. “Ele depende essencialmente da tecnologia de produção desenvolvida no país, pois é pobre quimicamente, mas rica do ponto de vista biológico. Com isso, o uso intenso está garantindo resiliência, ao permitir o enriquecimento de sua biodinâmica”, explicou Carvalho, que acrescentou que o país tem condições de exportar esse conhecimento e tecnologia para países com solo semelhante, como os dos países da África.
Outros pontos destacados foram o Brasil ser rico em água doce, o que gera um potencial para o uso de tecnologias de irrigação como agregador de produtividade; a maior utilização de técnicas sustentáveis como a integração de culturas; redução do uso do diesel; e o mundo digital que vem sendo trabalhado em polos de tecnologia para ganhos de produtividade e redução das emissões.
Uma das preocupações do setor, segundo Carvalho, é a geopolítica, pois há uma tendência de retorno de iniciativas protecionistas e conservacionistas, somada ao populismo. “Estive reunido com embaixadores e grupos técnicos da União Europeia para falar sobre o Pacto Ecológico Europeu e comentei sobre a importância de lidar com as diferenças entre o mundo tropical e o mundo temperado. E só conseguiremos fazer isso juntos. Por isso, tudo o que for desenvolvido em termos de regramento global, nós precisamos participar. Precisamos criar integração para não haver isolamento”, concluiu.
O Webinar Crise e Desafios nos Sistemas Agroalimentares Globais contou ainda com a apresentação do cientista agrícola alemão Joachim von Braun, diretor do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento da Universidade de Bonn, que detalhou os sete fatores dessa crise, que é multidimensional: Covid-19, mudanças climáticas, conflito entre Rússia e Ucrânia, inflação do preço dos alimentos, preço da energia e os custos de fertilizantes, dívidas acumuladas e a destruição da natureza.
Para von Braun é possível reduzir a fome no mundo e um dos aspectos para chegar a esse objetivo está no aumento da eficiência agrícola. Também mostrou que o custo real do alimento é três vezes maior do que o apontado pelo mercado, uma vez que os alimentos saudáveis e sustentáveis são mais caros, enquanto os alimentos não sustentáveis e não saudáveis são muito mais baratos. Comentou sobre sete pontos da agenda da ciência para sistemas agroalimentares resilientes e sobre as principais questões para estruturar uma política econômica voltada para essa finalidade. Falou ainda sobre a implantação da bioeconomia para superar essa crise nos sistemas agroalimentares globais.
O evento online, mediado por Ingo Melchers, diretor da APD, também teve as análises de Rachel Biderman, vice-presidente sênior para as Américas da Conservação Internacional (CI) e cofacilitadora da Coalizão Brasil, que o país pode oferecer mais ao planeta nas questões ligadas à natureza, biodiversidade e mudanças climáticas. “Mas, precisamos saber lidar com os reveses e desafios que temos”, pontuou. A seu ver, é preciso manter os sistemas produtivos de uma forma que se conserve a biodiversidade e não cause descaracterização do ecossistema. Ela elencou também as ações para diminuir o desmatamento no Brasil.
Já Marcos Jank, coordenador do centro Insper Agro Global, ressaltou que a questão da segurança alimentar voltou à tona no mundo. “Minha primeira reflexão é que os países busquem as políticas corretas. Contudo, infelizmente, o que tem se visto, desde a OMC12, é que há mais forças pleiteando políticas erradas, para restringir exportações, fazer estoques públicos ilimitados, conceder subsídios distorcidos”, ponderou. Nesse sentido, avaliou que as organizações multilaterais perderam a capacidade de coordenar a humanidade, como por exemplo, após a COP26 os governos vem reagindo de uma maneira lenta na questão do clima. “Descobrimos que a transição de baixo carbono vai ser lenta, com o problema do gás, do carvão e com as questões de investimentos”. Mas, segundo Jank, o Brasil tem um papel importante a cumprir seja em segurança climática, seja em segurança alimentar.
Fonte: Assessoria de Imprensa Abag - Mecânica de Comunicação Estratégica