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22/12/2025
A pecuária bovina brasileira deve entrar em 2026 em um momento de ajustes estruturais, com a oferta de animais em retração após um ano de abate intensos de fêmeas. O ciclo de descarte, iniciado em 2023, aumentou o número de vacas na participação dos abates, impactando diretamente a produção de bezerros e a disponibilidade de gado para engorda.
Segundo projeções do RaboResearch, a produção brasileira de carne bovina deve registrar retração de 5% a 6% em 2026, totalizando cerca de 10,5 milhões de toneladas em equivalente carcaça.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) estima queda de 4,5% na produção em 2026 em comparação a 2025. “|A redução decorre tanto da menor oferta de machos e fêmeas quanto do movimento de recomposição do rebanho, à medida que os pecuaristas começam a reter animais para manutenção do plantel”, informou a CNA.
Em 2025 , os abates de bovinos aumentaram 5,6% até o terceiro trimestre, enquanto a produção de carne cresceu 3,8% conforme os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A participação de fêmeas nos abates foi de 49,9%, contribuindo para a expansão do volume total de carne, que deve alcançar 12,02 milhões de toneladas no ano, segundo a CNA, alta de 1,7% em relação a 2024.
No cenário global, a oferta também deve ser limitada já que principais produtores como Estados Unidos, Austrália, Argentina e União Europeia apresentam restrições no rebanho para abate, com previsão de queda de 5% na produção mundial de carne bovina em 2026, conforme o Rabobank destacou.
No primeiro semestre, o mercado enfrentou pressões negativas nas referências devido ao aumento da oferta de vacas e novilhas para abate, bem como ao anúncio de tarifas adicionais à carne bovina brasileira pelos Estados Unidos. A recuperação começou no segundo semestre, quando o volume de animais terminados diminuiu e a demanda externa se manteve firme.
De acordo com o Cepea, o aumento do volume de animais confinados e a maior participação das vendas via contratos alteraram a dinâmica de comercialização no setor. “Com parte relevante da oferta já negociada antecipadamente, os frigoríficos reduziram as compras no mercado spot durante o segundo semestre do ano, movimento que contribuiu para uma leve elevação das cotações”, reportou o Cepea.
Ao longo de 2025, a taxa de ocupação de confinamentos permaneceu elevada, com crescimento de 18,5% em outubro de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024. O baixo custo relativo da ração e dos animais de reposição favoreceu a rentabilidade dos sistemas intensivos, mantendo a oferta de gado terminado em níveis adequados no curto prazo.
Na média do ano, a arroba do boi gordo subiu 22,4% em relação a 2024, segundo o indicador Cepea, com destaque para a segunda metade do ano, quando a entressafra e a menor oferta de animais terminados sustentaram os preços.
Em outubro de 2025, os contratos futuros para fevereiro de 2026 registraram preços acima de R$ 330 a arroba, sinalizando expectativa de alta de até 10% frente ao mercado físico. No entanto, a tendência de recuperação dependerá da evolução das condições externas, como a possibilidade de novas tarifas pela China e a manutenção das restrições de importação pelos Estados Unidos.
Preços do boi gordo entra em 2026 com viés de alta
A partir do segundo trimestre de 2026, a tendência é de maior recuperação dos preços, impulsionada pelo ajuste na oferta. A expectativa é de redução no percentual de fêmeas no total abatido, após um período prolongado de descarte elevado. Além disso, o volume de gado terminado deve ficar ligeiramente abaixo do registrado em 2025, contribuindo para um ambiente de preços mais sustentados.
Apesar do viés positivo, o mercado acompanha com atenção os riscos no cenário internacional. A eventual aplicação de novas tarifas pela China e a manutenção das tarifas de importação dos Estados Unidos podem exercer pressão negativa sobre as cotações do boi gordo, especialmente se houver impacto relevante sobre o ritmo das exportações brasileiras.
Outro ponto de atenção está no consumo doméstico, que com a expectativa de preços mais elevados para a carne bovina tende a favorecer a competitividade de proteínas mais baratas, como frango e suíno. “Esse movimento pode interromper a sequência de recuperação do consumo per capita de carne bovina no Brasil, iniciada em 2023, reforçando o papel da renda e dos preços relativos na decisão do consumidor”, destacou a CNA.
A evolução tecnológica da pecuária de corte brasileira ajuda a explicar parte da dinâmica atual do mercado. Ganhos em genética, nutrição e manejo permitiram o prolongamento da fase de maior oferta de fêmeas, inicialmente esperada para se encerrar em 2025. Esse avanço, embora positivo do ponto de vista produtivo, adiou o ajuste mais rápido da oferta e tornou o ciclo pecuário mais complexo.
Para 2026, o setor caminha para um cenário de preços mais firmes, porém marcado por maior volatilidade e dependência do ambiente externo. Planejamento, gestão de risco e acompanhamento atento dos mercados interno e internacional devem ser determinantes para a tomada de decisão de produtores e agentes da cadeia ao longo do próximo ano.
Fonte: Noticias Agrícolas