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20/11/2023
Popular na alimentação e agora aplicado em cosméticos: produtores da fruta encontram soluções para evitar perdas e inovar no mercado
Lais Lazarini
Repleto de benefícios a saúde, o abacate é um aliado da boa alimentação. Ainda mais quando, na busca por soluções sustentáveis e inovadoras, os produtores conseguem alcançar nichos de mercado até então pouco explorados. As frutas que não atingem o ponto ideal para serem comercializadas têm sido aproveitadas na fabricação de azeites e em cosméticos, evitando perdas e agregando valor ao pomar.
Essa foi a aposta de uma família de empreendedores de Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo. Os irmãos Jean Carlos Peterle e Maico Peterle, juntamente com suas esposas, Debora Possebon Martins Peterle e Carla Altoe Peterle, já estavam envolvidos no cultivo do abacate graças a uma empresa fundada pelos seus pais, há mais de quatro décadas. No entanto, à medida em que o tempo passava, perceberam que este já era um mercado comum a muitos outros agricultores brasileiros. Eles tiveram, então, a ideia de expandir os negócios e iniciar a fabricação do azeite de abacate. São pioneiros nesse segmento no estado.
Para inovar no mercado, a empresa precisou fazer inúmero testes durante cinco anos, com apoio do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES). O produto passou a ser comercializado há dois.
Para a extração do azeite, a cientista de alimentos da empresa, Joice Romão Machado, explica que é feita uma higienização nos abacates assim que chegam à indústria. Depois, são encaminhados para salas em que serão conservados em maturação até atingir o ponto ideal para o processamento. Quando isso acontece, são retirados o caroço e a casca. A polpa é levada para uma termobatedeira, onde será batida por cerca de uma hora, a uma temperatura de até 50ºC.
É nesse processo que a célula do óleo será retirada de dentro da polpa. A separação entre o azeite e a massa ocorre com centrifugação. Em seguida, o azeite extraído é levado para uma segunda centrifugação, pela qual se retira qualquer resíduo que tenha ficado. O azeite é filtrado e pronto para ser engarrafado.
Joice conta que um dos principais desafios foi conseguir adaptar as máquinas, que foram feitas para trabalhar com azeite de oliva, e não o de abacate: “Como a consistência muda, a gente tem que mudar também todo o processo, a velocidade das bombas e até mesmo equipamentos. Isso porque a oliva é muito mais grossa e o abacate é mais líquido”.
Ela acrescenta que não são todas as variedades da fruta que são adequadas a esse processo, pois a porcentagem de óleo e a consistência também são alteradas. “Hoje, a gente já tem noção que o Primavera e o Margarida são variedades muito boas para trabalhar. Sabemos que podem existir outras, mas falta estudo e testes na prática”.
Já na área comercial, uma das dificuldades é a popularidade do produto. Por ser pouco consumido e conhecido pelos brasileiros, há muitas etapas para que os produtores tornem o azeite de abacate reconhecido no país.
Um fator crucial nas vendas é o preço. Jean Peterle explica que o cultivo do abacate não é dos mais fáceis. É necessária uma grande área para a plantação e, se der certo, leva cerca de quatro anos para começar a dar frutos. Ainda assim, muitos produtores apostaram no abacate e, consequentemente, a produção tem se expandido. “Vamos ver se o mercado não vai se sobrecarregar com esse tanto de produtor e o preço abaixar demais, por excesso de mercadoria”, comenta Jean.
O Brasil é o sexto maior produtor mundial de abacates, com mais de 300 mil toneladas por safra. Em cinco anos, a produção cresceu mais de 50%. Nas áreas da família Peterle, a expectativa é que sejam, produzidas, neste ano, cerca de 800 toneladas. Já a fabricação de azeite ainda não é tão grande, justamente por ser pouco conhecido. A esposa de Jean e também sócia da empresa, Debora Peterle, conta que, no momento, existe uma parceria com um fabricante de sabonete a partir do azeite, mas que a intenção é diversificar. “Queremos desenvolver mais produtos, principalmente na área de cosméticos”.
Interior paulista
Quem conseguiu diversificar comemora os resultados. O engenheiro agrônomo José Carlos Gonçalves, que se dedicou, inicialmente, apenas às plantações de café no interior de São Paulo, passou a cultivar também abacates, há cerca de 30 anos. Foi expandindo as atividades para o interior de Minas Gerais até se tornar a maior produtora da variedade Breda no país.
Após muitos testes, a empresa conseguiu atingir o processamento ideal e, hoje, produz azeite a partir do fruto. O foco é o mercado interno, embora já tenha exportado para o Japão e a Coreia do Sul.
Com o sucesso do produto, os Gonçalves entraram no mercado de cosméticos, com uma linha que inclui cremes corporais, produtos capilares, hidratantes, demaquilantes, sabonete líquido e hidratante labial. A responsável pelo desenvolvimento de produtos, Júnia Maria Pimenta Magalhães Gonçalves, explica que o azeite é adicionado em todos os cosméticos na forma bruta, sem outro óleo adicional, o que é um grande diferencial.
A empresa tem planos para outras inovações. Desenvolve larvicidas, formicidas e, no ramo alimentício, prepara o lançamento de uma maionese de azeite. A parte física está em fase final de construção, para que a família inicie os testes finais.
Fonte: Lais Lazarini
Fonte: Lais Lazarini