Se está difícil tirar a mão do bolso por conta do frio, os brasileiros do Sul, Sudeste e Centro-Oeste também terão um motivo a mais para manter as mãos longe das carteiras: a recente onda de frio que atingiu as regiões vai afetar também os preços dos alimentos e, consequentemente, a inflação.
Segundo a professora de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Nadja Heiderich, a onda de frio impactou bastante as lavouras, inutilizando uma série de produtos, principalmente as hortaliças, que são mais sensíveis às temperaturas e têm uma cultura menos perene.
"Nas próximas semanas, o consumidor vai sentir o aumento do preço desses produtos, mas os valores devem se estabilizar e voltar ao normal dentro de um prazo de um a dois meses", diz a professora.
Ela acrescenta ainda que o aumento desses produtos impactará a inflação até o final do ano, apesar de o cálculo da inflação levar em conta outros produtos e serviços.
"O governo já esperava uma inflação mais alta, por uma série de outros fatores: os reflexos da pandemia; os efeitos da crise hídrica sobre a energia elétrica, que puxam os preços para cima; e a alta dos combustíveis no início do ano, por conta do cenário internacional e da alta do dólar.", acrescenta.
A professora lembra ainda que, no futuro próximo, serão comuns alterações no clima, por conta das mudanças climáticas.
"O mundo todo tem sentido eventos climáticos, e há uma tendência de que sejam recorrentes. Além do debate se as alterações são provocadas pela ação humana ou não, é fato que a temperatura da Terra está aumentando, e esses eventos atípicos impactam diretamente a agricultura e o agronegócio.".
Além do frio intenso em regiões tropicais, como o Brasil, outro exemplo das alterações no clima é a onda de calor no hemisfério norte, com temperaturas acima de 40 graus.
"Aqui no Brasil já eram esperadas desde meados de maio as duas ondas de frio que estamos sentindo agora. Mas, especificamente, uma onda de frio tão atípica e forte não era esperada pelo governo, economistas e produtores.", finaliza.
A especialista
Nadja Heiderich possui Doutorado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo, Mestrado em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo (2012) e é Graduada em Ciências Econômicas pela FECAP (2008).
Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: meio ambiente, modelagem matemática, logística, agronegócio. Atualmente é professora no Centro Universitário FECAP e coordenadora do NECON FECAP (Núcleo de Estudos de Conjuntura Econômica).