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14/01/2020
Coxinhas, nuggets, caftas, hambúrgueres e bolinhos que não usam produtos de origem animal na elaboração foram desenvolvidos por meio de parceria entre a Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e a Sottile Alimentos, empresa de Niterói (RJ). O segredo do New Burguer, por exemplo, é o uso de ingredientes que proporcionam características muito próximas às dos produtos elaborados com carne bovina, além da adição da fibra de caju. Entre os lançamentos há até o Siriju, bolinho similar ao feito com siri, mas elaborado somente com ingredientes vegetais.
A fibra de caju é proveniente do Ceará, onde a Embrapa Agroindústria Tropical desenvolveu estudos que possibilitaram a sua utilização como ingrediente. A pesquisadora da Embrapa Janice Lima conta que a ideia inicial era evitar o desperdício do bagaço do caju gerado pela indústria do suco, que é usado na alimentação animal.
O hambúrguer vegetal
Os pesquisadores perceberam que muitas pessoas no Ceará já aproveitavam a fibra para a produção de hambúrguer, porém com baixo teor de proteína. Por isso, foram realizados testes com a adição de outras fontes de proteína, como a texturizada de soja. “A finalidade dos testes também foi trabalhar a fibra para ter menos gosto de caju e para ficar com uma textura mais agradável ao consumo”, relembra a cientista que, na época, atuava na unidade da Embrapa em Fortaleza (CE).
Sabor e textura similares ao hambúguer bovino
Agora trabalhando na unidade de pesquisa fluminense, Lima se dedicou ao desenvolvimento dos produtos com a Sottile ao lado do analista da Embrapa André Dutra, com informações sobre como tratar a fibra de caju, sobre os ingredientes que poderiam melhorar as características sensoriais de sabor, aparência e textura dos produtos. “O hambúrguer, por exemplo, com base de soja e fibra de caju, é muito semelhante em termos de textura, cor e sabor ao similar de carne bovina. Para quem está acostumado a consumir o hambúrguer bovino, não sentirá tanta diferença no sabor e na textura e vai consumir um produto que é vegetariano e rico em fibras”, detalha a pesquisadora.
Alternativa sustentável e saudável
De acordo com Dutra, o uso da fibra de caju, oriunda da fruta nativa com grandes extensões de plantio e produção na Região Nordeste, promove uma solução sustentável ao descarte da indústria de suco. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2017, o Brasil produziu quase 60 mil toneladas de caju, sendo que 75% correspondem à fibra após o aproveitamento do suco e da castanha.
O analista ressalta que os produtos agregam valor à cadeia do caju e são diferenciados também pelo seu apelo saudável. “São ricos em fibra, componente importante na alimentação humana, que ainda proporciona aos produtos desenvolvidos a redução do valor calórico”, revela.
Potencial brasileiro no mercado vegetariano
De acordo com o diretor do The Good Food Institute (GFI) no Brasil, Gustavo Guadagnini, o mercado de alimentos com base vegetal tem crescido consideravelmente no País e já é uma das maiores tendências para o futuro da indústria local. Segundo uma pesquisa conduzida pelo GFI no ano passado, quase 30% dos brasileiros diziam consumir esse tipo de produto e 76% enxergavam esse consumo como uma atitude positiva.
“Se hoje nosso País é uma potência agropecuária, é porque tem investido de forma consistente na pesquisa científica, e o protagonismo dessa área está com Embrapa e suas cruciais contribuições para o Brasil. É de extrema importância que ela possa agregar seu imenso conhecimento a essa indústria nascente, para que possamos repetir uma receita de sucesso: o investimento em pesquisa e desenvolvimento, e assim garantir que seremos líderes mundiais também desse novo mercado”, acredita.
Fonte: Embrapa Agroindústria de Alimentos