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23/06/2021
Ele já estava cansado de sofrer todos os anos com a queda de produção de suas vacas leiteiras Girolando durante os meses mais secos (maio a outubro). Também via sua lucratividade saindo pelo ralo diante das constantes altas nos preços de alguns dos insumos tradicionais, que compunham boa parte da dieta de cocho de seus animais. Em novembro de 2020 ele decidiu mudar sua base de volumoso. Trocou o milho pelo sorgo forrageiro e, logo no primeiro corte, em fevereiro de 2021, fez 75 toneladas de silagem por hectare (ha), totalizando 240 toneladas nos 3,2 ha cultivados.
“Seguramente me custou a metade do que gastaria para produzir silagem de milho, por exemplo. A decisão, portanto, reduziu o custo de produção em aproximadamente 50% e me permite dormir tranquilo. Tenho comida para todo o período seco e até o final do ano”, garante o produtor Marcelo Alves Ferreira, dono da Fazenda e Haras MKF, em Pirenópolis, GO.
Com um rebanho leiteiro de 80 cabeças (de mamando a caducando) ele também comemora a maior resistência ao déficit hídrico no solo, adaptabilidade e capacidade de rebrota da variedade escolhida (Agri 002E, popularmente conhecido como Sorgo Gigante Boliviano, em função de sua altura, que pode superar os cinco metros). “O milho é muito exigente quanto à presença de água e adubação. Para eu conseguir produzir 50 t/ha de silagem com ele em condições de redução de disponibilidade hídrica, tenho de ser um expert e investir pelo menos o dobro. Com o sorgo, tenho ainda um segundo corte garantido, que devo fazer ao final de julho. Mesmo sem chuvas, devo somar pelo menos mais umas 80 toneladas. Essa é uma das propostas do Gigante”, conta.
Ganho a mais
O produtor de Pirenópolis começou a ofertar a silagem de sorgo para seus animais no final de maio. Ele entende que o material forrageiro não substitui os demais, mas consegue compor uma dieta de forma muito eficiente, de qualidade e com baixo custo: “Nessas primeiras semanas não posso me queixar de nada. A produtividade, a qualidade da massa ensilada e seu odor são bastante positivos. Para elevar o nível de NDT, misturo um pouquinho de casquinha de soja ou mesmo de milho triturado. Isso dá um ‘up’ no volumoso. As vacas amaram de paixão”, garante.
A alternativa encontrada pelo produtor foi aplaudida pela zootecnista e mestranda em Ciência Animal na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Aryadne Rhoana Dias Chaves: “Tecnicamente a estratégia dele é muito interessante. A silagem de sorgo é um alimento que apresenta cerca de 95% dos nutrientes necessários para os ruminantes e este valor fantástico permite ao produtor a sua associação com outros ingredientes na busca de um resultado nutricional ainda melhor”.
Especificamente em relação aos dois insumos adicionados pelo produtor, a zootecnista observa: “A casca de soja é rica em pectina, carboidrato estrutural altamente digestível que fornecerá de forma mais ágil a energia proveniente do volumoso”. O mesmo, segundo ela, acontece com a digestibilidade do milho. Porém faz um alerta: “Há de se ter cautela em sua utilização, pois o carboidrato do cereal é o amido que, apesar de ser uma excelente fonte de energia, modifica drasticamente a microbiologia ruminal se fornecido em elevados teores. Recomendo sempre a orientação técnica de um profissional para a formulação da dieta”.
Manejo e inclusão
Para obter a boa produtividade, Ferreira conta que seguiu à risca as recomendações dos técnicos da Latina Sementes, empresa responsável pela distribuição do Sorgo Gigante no Brasil e Paraguai. “Segui os protocolos recomendados no preparo da terra, calefação, plantio com o disco correto da plantadeira, adubação, aplicação de herbicidas e atenção ao controle com os pulgões. Como experiência, optei por um recurso de precisão, ao usar um drone pulverizador”, revela.
Com a devida orientação técnica e manejo adequado, Ferreira usa, confia e entende que o Gigante tem capacidade para ajudar a “tirar a turma lá de baixo”, se referindo aos pequenos pecuaristas. “É ferramenta de inclusão para o produtor. É altamente viável. Pode até não carregar a melhor composição para o trato de vacas de alta lactação, por exemplo. Porém, tudo pode ser ajustado com a adição de complementos para melhorar performance do NDT e da proteína bruta, ofertando massa verde e seca por um valor plenamente viável”.
Como essa é a sua primeira experiência com a variedade, Ferreira ainda não tem uma avaliação do desempenho animal na produção de leite, mas não pretende abrir mão do seu uso: “Meu foco agora está em produzir mais comida com pasto de Panicum rotacionado nas águas e silagem de sorgo gigante boliviano nos meses secos”.
Fonte: Ariosto Mesquita