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07/05/2022
A Embrapa Agroenergia (DF) finalizou um importante estudo que resultou no Inventário do Ciclo de Vida (ICV) da canola para a Região Sul do País, onde está concentrada a produção nacional da oleaginosa. O trabalho foi realizado em parceria com a Embrapa Trigo (RS), com a Universidade de Brasília (UnB) e contou com participação do setor privado, representado pela Celena Alimentos e pela Associação Brasileira dos Produtores de Canola (Abrascanola).
Inédito para a cultura da canola no Brasil, o levantamento e a avaliação dos dados, que resultou no ICV consideraram tanto a produção de grãos (fase agrícola) quanto o seu beneficiamento para a produção do óleo e do farelo (fase industrial), principais produtos da cadeia.
“A estruturação do Inventário do Ciclo de Vida é uma etapa muito importante e indispensável para definir os estudos, como a Avaliação do Ciclo de Vida, que visam definir o desempenho ambiental de produtos e avaliar os impactos ambientais potenciais”, explica o pesquisador da Embrapa Agroenergia Alexandre Cardoso, líder do projeto.
Ele acrescenta que a busca por sistemas de produção mais sustentáveis vem crescendo e, considerando a participação do agronegócio brasileiro no mercado mundial, é de suma importância avaliar o desempenho ambiental dos produtos nos sistemas de produção brasileiros. Isso porque cada vez mais países levam em consideração questões ambientais para estabelecer barreiras não-tarifárias, a fim de restringir o comércio de produtos que não comprovem serem oriundos de um sistema produtivo sustentável.
Ao justificar a escolha da canola, o pesquisador explica que ela é a terceira oleaginosa com maior volume de produção no mundo e que ainda não havia ICV para a cultura nas condições brasileiras, que diferem muito do cultivo realizado em outros países.
A proposta foi contemplada com recursos de um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (CNPq/MCTI) para produção de ICVs de produtos nacionais, visando disponibilizar os resultados para o Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida (SICV Brasil).
“Embora a sua produção ainda seja pequena no Brasil, a cultura vem demonstrando potencial de expansão para a Região Centro-Oeste, representando uma alternativa para complementar o mercado de óleos vegetais do País”, avalia o pesquisador.
Em 2021, a cultura foi trazida para o Cerrado brasileiro por meio do projeto Procanola, liderado pelo pesquisador Bruno Laviola, da Embrapa Agroenergia. Dados preliminares demonstram que o plantio no Distrito Federal alcançou produtividade média de 2 mil quilos por hectare, valor acima da média brasileira, que é de 1,4 mil kg/ha, mesmo com o baixo índice pluviométrico do plantio à colheita.
“A ideia é expandir os estudos com a mesma abordagem para a elaboração dos ICVs para cultivo em sequeiro e irrigado na Região Centro-Oeste, com foco numa abordagem de produção de baixo carbono de óleo e proteína vegetal”, prevê Laviola. (Veja mais em Ciência leva canola ao Cerrado e à região do Semiárido)
As principais bases de dados atualmente disponíveis são internacionais e, embora incluam um grande número de processos, ainda são poucos os que representam condições brasileiras, o que pode acarretar potenciais distorções nas análises e comparações por meio da ACV.
“Considerando a extensão do território brasileiro, a geração de inventários nacionais e regionalizados para os produtos e disponibilização no Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida (SICV Brasil) e bancos de dados internacionais requerem esforço contínuo e investimentos”, frisa Cardoso.
“A disponibilização do ICV da canola, após a validação pela equipe do SICV Brasil, é oportuna no atual contexto de introdução dessa oleaginosa como cultura de segunda safra na Região Centro-Oeste. Abre-se a possibilidade de demonstrar a sustentabilidade da expansão de oferta de óleos vegetais no Brasil nos próximos anos”, analisa a economista e pesquisadora da Embrapa Rosana Guiducci.
Pesquisador e ex-presidente da Embrapa
Os recursos naturais utilizados para a produção de alimentos, fibras e bioenergia são, em sua maioria, renováveis, o que deveria permitir que os mesmos fossem considerados altamente sustentáveis. No entanto, a agricultura pode incorporar práticas e processos que a aproximem da lógica de indústrias extrativas – como a mineração, o que irá caracterizá-la como não-sustentável.
Por isso, os produtores agrícolas estão sendo pressionados a demonstrar que os insumos ambientais que utilizam (como água, solo, matéria orgânica, biodiversidade, etc.), e os serviços ambientais que acessam (como regulação dos ciclos hidrológicos, fixação de carbono, polinização, reciclagem de resíduos, etc.) sejam tratados de forma segura e parcimoniosa, obedecendo a critérios de sustentabilidade. Razão do crescente interesse em métodos de quantificação da sustentabilidade que permitam avaliar diferentes práticas de produção agrícola quanto aos cuidados com a natureza.
A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é uma das metodologias mais consagradas para esse fim, tendo sido desenhada para medir os impactos ambientais de um produto, processo ou serviço, desde a sua produção e uso até o descarte – trajetória também descrita como “do berço ao túmulo”.
Esse tipo de análise está na base da emergente Economia Circular, que surge como alternativa ao modelo econômico tradicional, baseado em extração de matérias-primas, fabricação, uso e descarte. Como é inviável seguir consumindo recursos naturais finitos e produzindo resíduos e descartes sem limites, é imperativo substituir o modelo de produção linear por um modelo circular, no qual materiais são devolvidos ao ciclo produtivo por meio da reutilização, da recuperação e da reciclagem.
Ao longo das últimas décadas, as Avaliações de Ciclo de Vida incorporaram metodologias cientificamente embasadas e foram padronizadas por normas técnicas internacionais, o que facilita a sua ampla aplicação e aprimoramento.
Um exemplo recente da aplicação desse conceito é o RenovaBio, uma política pública destinada a fortalecer o uso dos biocombustíveis no Brasil. Por meio da avaliação do ciclo de vida, a contabilidade das emissões de carbono dos biocombustíveis pode ser realizada de forma precisa, em comparação aos combustíveis fósseis.
Tais medidas permitem identificar e recompensar produtores que investem na melhoria do desempenho ambiental dos seus processos, promovendo a redução de emissões de gases de efeito estufa, o que por sua vez promove o aumento sustentável da produção de biocombustíveis no Brasil, com base em eficiência e qualidade ambiental.
Fonte: Embrapa Agroenergia