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20/01/2025
Apicultor de Poços de Caldas, em Minas Gerais, inova na maneira de extrair o produto: em vez de madeira, usa chapa de inox, o que reduz perdas e o risco de contaminação
Vitor Hugo Ferreira
O produtor rural Pedro Paulo Muniz, de 55 anos, consegue se dedicar a um trabalho com o qual teve contato ainda na adolescência, observando os amigos. Ele se apaixonou tanto pela apicultura que criou até um método diferente para fazer a coleta de própolis.
Pedro mora em Poços de Caldas-MG. Mas, desde muito jovem, nutria o sonho de ir para os Estados Unidos. O caminho não parecia fácil e. para facilitar a retirada do visto, decidiu residir numa metrópole. A escolha foi o Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, ficou por mais de uma década, prestando serviços a condomínios residenciais. Com isso, reuniu condições para ganhar a América.
A terra do Tio Sam é conhecida pela alta demanda de mão de obra. Latino-americanos encontram, nessa escassez, uma fonte de renda. E foi apostando nisso que Pedro exerceu, por dez anos, o ofício da carpintaria, em Purchase, estado de Nova Iorque.
Voltando ao Brasil, seguiu como carpinteiro, mas percebeu que a procura estava baixa. E que aquele poderia ser o momento de retomar o desejo da adolescência. Antes de migrar, definitivamente, para as abelhas, fez um curso completo de apicultura em São João da Boa Vista-SP. “No início, meu pensamento era ter uma renda com mel. Na época, ainda não se tinha muita consciência de que havia rentabilidade para trabalhar com a própolis”.
Ele explica que, para ter um bom mercado com a própolis, é preciso abrir mão das atividades com mel. “Estou no ramo de apicultura há cerca de nove anos, sete trabalhando com própolis. Para obter um produto de qualidade, é necessário deixar que todo mel produzido nas colmeias fique de alimento para as próprias abelhas”. Sem contas que as caixas de que os apicultores extraem mel tendem a produzir uma própolis de má qualidade, chamada também de resina.
As abelhas do Pedro produzem própolis de primeira e de terceira. Ambas consideradas verdes, prontas para serem vendidas. Ele começou a produção no próprio sítio, em Poços de Caldas, mas, conforme o negócio se expandia, foi firmando parcerias com produtores rurais da região, para que pudesse alocar suas caixas em plantações de alecrim-do-campo, cultivado na entressafra da soja. Dessa forma, os agricultores também se beneficiam, com a polinização feita pelas abelhas.
O apicultor tem 400 colmeias, cada uma com média de 60 mil abelhas. Em caixas maiores, o número pode chegar a 100 mil. Com isso, ele estima ter mais de 20 milhões de insetos. Criação considerada de pequena a média para os padrões nacionais. Cerca de 120 caixas estão em produção, que totalizam 60 quilos por mês de própolis. As outras ainda estão em formação.
O escoamento do produto tem duas possibilidades: laboratórios e atravessadores. A matéria destinada a laboratórios costuma ter comercialização no mercado interno. Já em negócios para atravessadores, o caminho final é, geralmente, a exportação.
A coleta acontece com mais intensidade de outubro a maio. Por seu clima tropical, o Brasil possibilita que os insetos produzam durante quase todo o ano, mas com significativa baixa no inverno. Isso faz com que Pedro mantenha as caixas fechadas durante boa parte da estação.
O grande diferencial
Além da trajetória, um dos diferenciais de Pedro é a forma de extração da própolis. As caixas de abelhas usam, tradicionalmente, entre o sarrafo e melgueira, a madeira. No caso de Pedro, a peça foi substituída por uma chapa de inox.
Os benefícios são variados, segundo ele. No método tradicional, ao utilizar a faca para retirar as fitas com a matéria-prima, uma quantidade de madeira (fiapos) também acaba sendo retirada. Isso implica em dois fatores que podem prejudicar a produção. Um deles, e mais obvio, é a perda de uma parte da própolis. O outro é a maior probabilidade de contaminação, além da produção um pouco menos acelerada.
No caso da chapa, o material é retirado com facilidade, apenas no passar da faca. Também é evitada a mistura com outro material, já que o inox impede o contato com a madeira. “Tive a percepção de que materiais metálicos dentro da caixa, como os pregos, eram as áreas propolizadas mais rapidamente “. A chapa de inox segue essa lógica.
A ideia é inovadora e tem rendido prêmios. Como que Pedro conquistou em outubro de 2024, no “Encontro de Apicultores e Meliponicultores” de Jacuí-MG. Ele foi o campeão do concurso de própolis.
Inovadora, mas será que pioneira? Pedro não sabe de outros apicultores que usem essa forma de extração, mas não pode afirmar que é o único no mundo. E nem como surgiu a ideia. “Para ser sincero, não sei afirmar. Ao perceber que as abelhas propolizavam mais rápido em metais, tenho vaga lembrança de ter sonhado com isso. Mas também posso ter lido algo semelhante em um artigo”.
Bem, o importante é que deu certo.