Energia é um sistema, não um botão. Sistemas não giram rapidamente.” Amory Lovins – cientista, escritor (defesa de caminhos energéticos sustentáveis)
O Brasil virou foco da mídia internacional neste mês de nov/25. Afinal, uma reunião da Conferência das Partes (COP30) se realiza no Brasil. Com um ambiente carregado de dúvidas e de ausências, uma serie de posições conflitantes veio à tona, desde o governador da Califórnia, presente, criticando o presidente dos EUA pela ausência, até o presidente do Brasil justificando investimentos em petróleo na Foz do Amazonas e, ao mesmo tempo, fazendo juras de amor aos renováveis.
Um olhar de popa, para curto prazo, indicava a retração das empresas de energia aos compromissos de redução de oferta de combustíveis fósseis enquanto a China (sem ter petróleo) só faz crescer a oferta de energias renováveis, sem largar o carvão mineral. O discurso lá de trás das economias mais pobres que precisariam do petróleo/gás para seu desenvolvimento se alastrou para os emergentes e ricos de forma irreversível. Mesmo na Europa, os recuos do seu programa ambiental são visíveis.
Os fatores econômicos e geopolíticos são muito relevantes, já incluídos neles as questões tecnológicas e sociais. Transformar uma matriz energética global de mais de 150 anos exige tempo e muitos recursos; refinarias, termoelétricas, motores, tem vidas longas. Também deve-se citar que a concentração de matérias primas como as terras raras não é algo que alimente oportunidades e, sim, ameaças, em fase de geopolítica de muita competição comercial.
Os complexos déficits fiscais nos países em geral trazem outra dificuldade, assim como a necessidade crescente de subsídios.
O caso brasileiro vale reflexão. Os renováveis já dominam (50% da matriz energética e 90% da matriz elétrica) e é um exemplo ao mundo. Mas, mesmo sendo o país dos biocombustíveis, o Brasil mostra, ao lado de legislação completa e favorável, incerteza regulatória e instabilidade. Os preços da gasolina e do óleo diesel são determinados pela Petrobras e seus interesses; as externalidades negativas dos combustíveis fósseis não estão pesando, como deveriam, nos tributos em relação aos biocombustíveis; os veículos flexíveis ou mesmo os flexíveis híbridos que juntos somam perto de 80% da frota de veículos leves apenas usam 30% do total consumido, em etanol! Falta infraestrutura logística no modal ferroviário e hidroviário para viabilizar espaços nesse grande país aos combustíveis renováveis.
A transição energética, hoje já chamada adição energética é o caminho global e um processo de mudança civilizatório. Não cabe, entretanto, no período de mandato de burocratas.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho -UDOP - Diretor Secretário