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09/10/2019
Será embarcado, neste mês de outubro, o primeiro contêiner com cafés especiais brasileiros negociados pela Farmly, startup vencedora da edição da Universidade Federal de Viçosa (UFV) do programa Avança Café, destinado a incentivar soluções inovadoras para a cadeia do café por meio de novos empreendimentos. O programa é uma iniciativa do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café (DF).
A Farmly identificou um desafio importante que aguardava solução: pequenos cafeicultores brasileiros têm dificuldade de exportar grãos especiais em menores quantidades. Do outro lado do balcão, pequenos torrefadores no exterior são obrigados a comprar de grandes empresas de exportação. A inovação proposta pela startup foi unir essas duas pontas da cadeia por meio de tecnologia.
Os seis jovens empreendedores da Farmly desenvolveram uma plataforma digital para que cafeicultores no Brasil possam oferecer lotes de cafés especiais a torrefadores estrangeiros interessados em comprar grãos gourmets em menor quantidade. Como resultado, o produtor consegue faturar cerca de 20% a mais em comparação ao que receberia com uma exportação convencional e o pequeno processador no exterior tem acesso facilitado a pequenos lotes especiais pelos quais paga, em média, 14% menos em relação às importadoras locais.
“Em alguns casos, uma saca que seria vendida a R$ 420,00, por meio de exportadores tradicionais, pode chegar a valer R$1 mil ao produtor na plataforma da Farmly”, compara o engenheiro mecânico Telmo Baldo, responsável pelo gerenciamento financeiro da startup. Ele conta que a diferença é explicada pelo fato de a inovação dispensar diversos intermediários no roteiro de exportação.
No sistema convencional, o produtor é contatado por um coffee hunter, profissional responsável por identificar lotes de café de qualidade. Depois, o produto é negociado com uma exportadora brasileira e recebido por uma empresa do mesmo setor no país de destino. Passa por um centro de distribuição de onde é finalmente enviado ao comprador final. O grande número de elos e de lotes nesse processo favorece perdas durante o transporte.
O Consórcio Pesquisa Café
Criado em 1997, o consórcio recebeu a missão de unir recursos humanos, físicos, financeiros e materiais das instituições parceiras e captar recursos adicionais para viabilizar o desenvolvimento dos projetos do Programa Pesquisa Café.
É gerido por um Conselho Diretor constituído do dirigente de cada uma das instituições consorciadas: Instituto Agronômico (IAC), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Embrapa, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), Universidade Federal de Lavras (Ufla) e Universidade Federal de Viçosa (UFV).
A inovação proposta pelos sócios, porém, vai além do aumento de ganhos para os participantes. “Queremos promover uma relação mais próxima e pessoal, em que compradores conheçam a propriedade que produz os cafés. Dizemos que o objetivo é fazê-los perceber ‘o cheiro’ da fazenda e se sentirem em um relacionamento familiar, o que originou o nome da empresa”, conta o sócio Lucas Faria, estudante de Engenharia de Controle e Automação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e desenvolvedor da plataforma.
O novo jeito de exportar café
Para exportar pela plataforma digital, o cafeicultor deve procurar a Farmly e enviar as amostras de grãos que pretende vender para o exterior. O café é remetido a especialistas que avaliam a qualidade, estimam o valor aproximado do lote e o endereçam a mercados específicos de acordo com as características observadas.
Com o café aprovado, as informações sobre o grão são disponibilizadas na plataforma com dados sobre o produtor e sua propriedade. É contada, por exemplo, a história do cafeicultor, o que acrescenta valor e pessoalidade ao negócio.
O lote é então enviado à Farmly, que o exporta e armazena em estoques no exterior próximos aos centros consumidores. De lá são despachados aos clientes que encomendaram e o restante forma um estoque que é oferecido a outros torrefadores. “Isso garante agilidade de entrega e preserva a qualidade do produto”, afirma Faria.
Os empresários ressaltam que a plataforma ainda permite a identificação de lotes especiais, gerados em safras excepcionais em que as condições climáticas favoreceram a produção de grãos superiores e que, por isso, são muito valorizados pelo mercado internacional.
A previsão de crescimento dos negócios é surpreendente. Neste ano os empreendedores exportarão dois contêineres, totalizando R$ 967 mil. Em 2020, eles preveem vender oito, faturando R$ 3,87 milhões e, em 2021, a intenção é dobrar para 16 contêineres e registrar R$ 7,74 milhões em faturamento. “O mercado de cafés especiais é de US$ 20 bilhões anuais e cresce à taxa de 20% ao ano”, comemora Faria, anunciando que além das vendas à Europa, a empresa já se aproxima da Ásia para ampliar sua área de atuação. “Isso é algo realmente animador e inovador”, avalia o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Café, Omar Cruz Rocha.
O papel do Avança Café
Lucas Faria conta que a ideia do negócio estava engavetada e que ganhou vida graças ao Hackaton Avança Café. “A competição nos fez organizar o projeto e submetê-lo à etapa em Viçosa”, lembra o estudante. Para a equipe, o programa ajudou a dar disciplina além de fornecer o know how necessário para montar um novo negócio.
“O fato de termos de fazer entregas semanais sobre o andamento do trabalho acelerou a empresa e construiu o negócio. Saímos da ideia e partimos para a ação”, avalia Faria. Os participantes também elogiaram os facilitadores envolvidos. “Trouxeram profissionais que nos ensinaram a trabalhar o comercial, o marketing, o desenvolvimento... aprendemos muito”, afirma Baldo, frisando a importância também da mentoria e do ambiente promovido que gerou a primeira rede de networking da empresa. “Por fim, eu fiquei impressionado com a forte atuação que a Embrapa tem no incentivo à inovação. Era um papel que eu não associava à Empresa”, revela Baldo.
Fonte: Embrapa Café