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11/07/2022
Bilhões de pessoas tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento dependem de espécies silvestres de plantas e animais para alimentação, saúde, energia, geração de renda e recreação, entre outras finalidades. Muitas dessas espécies, contudo, estão em declínio, ameaçadas pela exploração excessiva e pelo comércio ilegal, entre outras práticas que têm agravado a crise global da perda de biodiversidade.
O alerta foi feito por cientistas autores do relatório de avaliação sobre o uso sustentável de espécies silvestres da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês) – entidade criada em 2012 com a missão de sistematizar o conhecimento científico e subsidiar decisões políticas em âmbito internacional. O resumo do documento foi aprovado esta semana por representantes dos 139 Estados-membros do órgão – incluindo o Brasil – e divulgado nesta sexta-feira (08/07) em Bonn, na Alemanha.
“Cerca de 50 mil espécies silvestres são utilizadas de diferentes maneiras, incluindo mais de 10 mil que são usadas diretamente como alimento. As populações rurais dos países em desenvolvimento são as mais vulneráveis ao uso insustentável, uma vez que, com a falta de alternativas, são forçadas a seguir explorando espécies que já se encontram em risco”, disse Jean Marc Fromentin, um dos coordenadores da avaliação.
O relatório é resultado de quatro anos de trabalho de 85 especialistas, líderes em ciências naturais e sociais de diferentes países, além de detentores de conhecimento indígena e tradicional e de 200 autores contribuintes, com base em mais de 6,2 mil estudos.
Entre os autores do documento está Maria Gasalla, professora do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO-USP).
Os autores destacam que, nos últimos 20 anos, o uso humano de espécies silvestres tem aumentado em geral, mas sua sustentabilidade tem variado de acordo com as práticas.
A superexploração tornou-se muito comum e já é uma das principais ameaças à sobrevivência de muitas espécies terrestres e aquáticas, apontam.
“A sobrevivência de cerca de 12% das espécies de árvores selvagens está ameaçada pela exploração madeireira insustentável. A coleta insustentável é uma das principais ameaças para vários grupos de plantas, notadamente cactos, cicas e orquídeas, e a caça insustentável tem sido identificada como uma ameaça para 1.341 espécies de mamíferos silvestres”, sublinham os autores.
Por sua vez, o comércio ilegal de espécies silvestres já representa a terceira atividade ilegal no mundo, com valores anuais estimados em até US$ 199 bilhões. A madeira e o peixe representam os maiores volumes e valores do comércio ilegal de espécies silvestres.
As mudanças climáticas também podem agravar a perda de espécies silvestres. Ao mesmo tempo, algumas das melhores práticas no uso de plantas e animais selvagens, tais como a silvicultura sustentável, podem ser uma ferramenta importante de mitigação e adaptação ao clima, ponderam os autores.
“Enfrentar as causas do uso insustentável e, sempre que possível, reverter essas tendências, resultará em melhores resultados para as espécies silvestres e para as pessoas que dependem delas”, avaliou Marla Emery, uma das coordenadoras do relatório.
Uso sustentável
Uma a cada cinco pessoas em todo o mundo (cerca de 1,6 bilhão) depende de plantas silvestres, algas e fungos para sua alimentação e renda; uma em cada três (2,4 bilhões) depende de lenha para cozinhar e cerca de 90% dos 120 milhões de pessoas que trabalham na pesca de captura dependem da pesca em pequena escala, apontam os autores.
A fim de estabelecer um uso mais sustentável das espécies silvestres de plantas, animais, fungos e algas em todo o planeta, de modo a assegurar o bem-estar da humanidade, os autores do relatório analisaram políticas e ferramentas que têm sido usadas em diversos contextos.
Com base nessa análise, apresentam alguns elementos-chave que poderiam ser usados como alavancas para essa finalidade, como a implementação de políticas inclusivas e participativas e medidas de gestão de cadeias econômicas baseadas na exploração de espécies silvestres.
Em países com sólida gestão da pesca têm sido observado aumento das populações de peixes com valor econômico. A população de atum vermelho do Atlântico, por exemplo, foi reconstruída e agora é pescado dentro de níveis sustentáveis.
“Para países e regiões com baixa intensidade de medidas de gestão da pesca, no entanto, o estado das unidades populacionais é muitas vezes pouco conhecido, mas geralmente acredita-se estar abaixo da abundância necessária para maximizar a produção sustentável de alimentos”, ponderam os autores.
A mudança climática, a crescente demanda e os avanços tecnológicos nas tecnologias extrativas estão entre os prováveis desafios para o uso sustentável das espécies silvestres, e é necessária uma mudança transformadora para enfrentá-los, aponta o relatório.
O relatório está disponível em: https://zenodo.org/record/6810036#.YsgpaHbMLIV.
Fonte: FAPESP
Fonte: FAPESP